O encontro com Deus é o mais importante e essencial motivo de nossos cultos de adoração. Se a presença de Deus não se torna real para os adoradores, se a frieza caracteriza os momentos que devem promover vitalidade espiritual, faz-se necessária a análise das possíveis barreiras que impedem a comunhão com Deus, e sobre como se livrar delas. Seguem algumas sugestões.
A atitude incoerente com a adoração em Espírito e em verdade
Não foi a ausência de oferta de sangue no holocausto de Caim que fez com que Deus rejeitasse a sua oferta. Foi o coração cheio de amargura e inveja.
Jesus ressalta a necessidade de que todo aquele que cultua perdoe seu irmão, para que possa esperar o cumprimento da promessa do perdão divino (Mt 18:21-35). Essa atitude é tão séria que Jesus ordenou que quem chegasse à reunião da igreja com uma oferta para os necessitados e lembrar-se de que um irmão na fé tem alguma coisa contra ele, será obrigado a deixar de ofertar para primeiramente reconciliar-se com o irmão ofendido (Mt 5.23-24).
As exterioridades e o tradicionalismo
Toda prática que faz parte da liturgia das igrejas teve sua origem em boas intenções. Buscava-se realmente adorar ao Senhor de maneira ordeira e sem imprevistos, com profundo temor e tremor. Contudo, o apego aos modos tradicionais acarreta o perigo constante das exterioridades, da hipocrisia e da desonestidade. Deus se compraz “na verdade, no íntimo e no recôndito”. O adorador precisa conhecer a sabedoria (Sl 51.6).
A tradição dos anciões judeus induziu os religiosos contemporâneos de Cristo a não comerem sem lavar cuidadosamente as mãos, juntamente com outras aspersões e lavagens destinadas a retirar a contaminação religiosa. Deus ordenou que seu povo evitasse a contaminação (Lv 11.4-7). Entretanto, os rabinos querendo agradar a Deus, puseram uma cerca com torno da lei de Moises, para evitar qualquer contato com o mundo gentio ou outra fonte que eles julgavam contaminada. Assim a vontade de Deus foi exteriorizada. Jesus avaliou o ritual meticuloso como hipocrisia, um exemplo de vã adoração. Tradições humanas cristalizaram-se em lugar da vontade divina real (Mc 7.6-7; Mt 15.1-20).
O obstáculo da rotina
Ao lado da ameaça da tradição está a rotina. Surgem hábitos que passam a regular a nossa vida em os fazem ignorar a necessidade de aprender e renovar constantemente as nossas atitudes.
Com muita facilidade a rotina pode caracterizar os cultos. Aquilo que atraía e empolgava no início da vida cristã passa a ser um hábito irrefletido, um caminho percorrido automaticamente, de maneira que a sua utilidade se perde. Se o culto torna-se monótono, uma repetição cansativa colocará um obstáculo terrível à verdadeira adoração.
Para que a adoração mantenha a sua legitimidade, o adorador precisa estar disposto a pensar, a mudar os hábitos estéreis, e fortalecer o “resto que estava para morrer” (Ap 3.1-2).
O mundanismo
O mundanismo pode ser denominado como o câncer da alma. Muitas vezes, aos olhos da maioria, ele é invisível, porém mortífero. “Se você estiver amando qualquer prazer mais do que as orações, qualquer livro mais do que a Bíblia, qualquer casa mais do que a de Deus, qualquer mesa mais do a do Senhor, qualquer pessoa mais do que Cristo, qualquer indulgência mais do que a esperança do céu, então tome conhecimento do perigo que você está correndo!” (Guthie, T. Gathered Gold. op. cit., p. 338.) Seja o mundanismo do pensamento ou da prática, impreterivelmente criará um empecilho intransponível para a adoração, a menos que nos acheguemos a Deus como uma pessoa sedenta, e bebamos (Jo 7.37-39).
O pecado não confessado
Muitos cristãos dão pouquíssima atenção ao salmo 66.18. Não devemos deixar que o pecado consciente, cultivado e defendido no fundo do coração seja motivo intransponível para Deus nos negar o prazer de sua companhia. A santidade do Senhor inviabiliza qualquer ato de adoração de quem está apegado a alguma impureza.
O Senhor ensinou que, pela confissão do pecado e pela confiança no sangue purificador, podemos ter livre acesso ao trono da graça (Hb 4.16). O caminho da adoração passa pela bacia e pelo altar (Ex 30.17-21; 27.1-8), pelo reconhecimento do pecado e pela presença ao pé da cruz.
O desinteresse e a ingratidão
Na balança da vida, colocamos num prato as preocupações, interesses, atrações, enfim, tudo o que preocupa o pensamento. No outro prato, colocamos os elementos básicos que compõem a adoração: louvor, comunhão com Deus, gratidão e busca do reino de Deus na oração.
O segredo é procurar cortar o que desvia a atenção e esfria a alegria no Senhor. Tudo o que Deus quer para seus filhos é bom, não podre. Deve ser recebido com ações de graça e consagrado pela palavra de Deus e pela oração (1Tm 4.4-5). Paulo recomenda uma peneira na mente cristã. “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, todo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8).
A preguiça e a negligência
No meio das muitas barreiras que tornam a verdadeira adoração mais rara, nenhuma seria tão comum quanto a preguiça. Os motivos que criam a preguiça devem ser identificados para que possamos melhor combatê-los.
- O sono, geralmente apodera-se do adorador ou porque este se deitou tarde ou porque mantém um ritmo de trabalho acelerado. O adorador descobre que não tem disciplina necessária para concentrar-se na oração, no significado da leitura da bíblia e nem na exposição da palavra de Deus.
- Aprende-se a negligência da mesma forma como se contagia com o zelo. Os membros preguiçosos contaminam a comunhão dos santos. Paulo ordenou aos lideres de Tessalônica que amparassem os fracos (1Ts 5.14). Há motivo sério para isso: para que os fracos não venham sugar a energia de toda a igreja.
- A preguiça aumenta num ambiente onde o culto não é valorizado. A liberdade de culto não é um direito que um cristão gostaria de perder, mas em países onde há fortes restrições à prática da religião, o zelo dos cristãos tem crescido muitíssimo. Cresce o envolvimento porque a comunhão é preciosa. Dificilmente encontra-se lugar vazio em uma igreja assim.
Quase sempre, a diminuição da fome pela comunhão com Deus tem alguma explicação razoável. Aos poucos, alguma coisa vai ocupando o espaço que antes abrigava o Espírito Santo. Paixões por alguém do sexo oposto, um “hobby”, descoberta de “novas” verdades num livro filosófico; enfim, qualquer desperdício de energia mental ou espiritual que deixe a pessoa desmotivada para um culto vital.
Adoração Bíblica – Russell Shedd